O caju do cajuzinho

Por Rita Turner
Coluna Culinariando

Os docinhos de festa devem estar passando dias apertados na onda da comida natural e saudável de hoje em dia. Não vou entrar no mérito da questão aqui, pois cada um no seu quadrado e cada um come o que quer, certo? Mas quero falar sobre um docinho específico: o cajuzinho.

Ele não é unanimidade como brigadeiro, desconfio que nem segundo lugar ele leva no conceito popularidade – na minha opinião essa fica para o beijinho, muito presente ao lado do brigadeiro. A verdade é que o cajuzinho acabou ficando meio desatualizado, saiu de moda… old fashioned, tadinho.

Ao contrário do brigadeiro, que passou por um recente facelift, o cajuzinho manteve sua integridade e continua fiel à sua origem. Ou quase. Explico-me.

Primeiramente, vamos entender o doce: o cajuzinho, como o nome sugere, é um docinho de caju, certo? Errado. O cajuzinho atual é feito de amendoim, mas nem sempre foi assim. O cajuzinho original, nascido nas regiões Norte e Nordeste, era feito com a polpa do caju, que é uma fruta abundante e comum naquelas áreas.

O cajuzinho chegou ao Sul e Sudeste pelas mãos de inúmeros imigrantes nordestinos e foi mudando sua composição – a polpa de caju deu lugar ao amendoim (convenhamos, uma boa manobra a favor da praticidade). Do caju mesmo, só restou o formato (e olha lá, que tem muita gente fazendo cajuzinho redondo esses dias). Hoje em dia há várias receitas de cajuzinho. Algumas até levam chocolate em pó, numa tentativa desesperada de se aproximar ao brigadeiro, talvez.

Aqui fora do Brasil o cajuzinho nem existe. Nem em festinhas brasileiras ele aparece. Acontece que o caju é uma fruta muito desconhecida nesse mundão afora. Toda vez que eu explico para os menos entendidos de caju que a castanha é só uma parte da fruta toda (na verdade o fruto é a castanha, o caju é um pseudofruto, mas isso é outra história), eles me olham como se eu fosse maluca.

Só me levam a sério depois de confirmarem a informação em fontes muito mais confiávels: online.

Para complicar mais ainda, o amendoim virou persona non grata em muitos ambientes infantis fora do Brasil, principalmente na América do Norte, onde há um grande número de crianças alérgicas. Êita bichinho azarado, esse cajuzinho.

Portanto, se você mora fora do Brasil, é provável que seus filhos nunca tenham visto uma fruta de caju in natura. Como então explicar o cajuzinho? Não se desespere, a tecnologia está aí para isso.

Mostre para eles o que é o caju. Comece pelo cajueiro, essa árvore linda, com suas pencas de caju coloridas, lembrando um brinco-de-princesa gigante e comestível.

Você sabia que o maior cajueiro do mundo fica no Brasil? Explique de onde vem a castanha, fale sobre a região brasileira de onde essa fruta vem. Como trilha sonora, coloque um Alceu Valença na vitrola e mostre que a Morena Tropicana, além da pele macia, tem carne de caju.

Se animou? Então, aí vão duas versões de cajuzinho para você experimentar. Divirta-se!

Cajuzinho sem leite condensado (contém clara de ovo crua)
Misture 500g de amendoim torrado e moído (farinha de amendoim)
200g de açúcar
2 claras

Modele os cajuzinhos e passe em açúcar. Espete uma castanha de caju ou uma metade de amendoim (sem casca) na ponta e pronto!

Cajuzinho de festa
1 lata de leite condensado
50g de amendoim torrado e moído, sem casca (farinha de amendoim)
1 colher (sopa) de manteiga

Leve ao fogo até dar o ponto de enrolar (soltar da panela), passe para um prato e deixe esfriar. Depois, modele os cajuzinhos, passe em açúcar e decore com um amendoim.

Dicas:
Troque o amendoim pela castanha-de-caju, ou faça meio a meio.
Acrescente 1 ou 2 colheres de chocolate em pó à massa.
No lugar do amendoim triturado, use paçoca de amendoim esfarelada (do tipo rolha), e diminua o açúcar da receita.