As Águas de Òsàálá, você sabe porque fazemos?

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Òsàlá é a grande Divindade do Candomblé, considerado o « Òrìsà dos Altos » (Òrìsà Nlá) é sem sombra de dúvidas, das Divindades que se manifesta, a mais respeitada em todo o Brasil. É considerado o dono do branco e por essa razão é chamado de Òrìsà Funfun. Em suas obrigações, todos os seguidores do Candomblé, sejam iniciados para Òsàlá ou não, se vestem de branco em sinal de respeito e devoção. Ele é o grande detentor de Asè e por isso o chamamos de « Alábáláàsè ».
Òsàlá é festejado numa cerimônia denominada « águas de Òsàlá ». Esse ritual é um dos mais bonitos do Candomblé. Nele, ocorre uma procissão na qual os objetos de adoração à Òsàlá são depositados num local sagrado. Após isso, todos os filhos da casa dormem no salão principal, onde está plantado o Asè da casa. Na aurora do dia seguinte, todos os omo Òrìsà, rigorosamente vestidos de branco, acordam em silêncio para carregarem em procissão, a água retirada da fonte consagrada à Òsàlá e que será utilizada para lavar os objetos sagrados do Deus, constantes no local sagrado.
Mas afinal, porque realizamos essa linda cerimônia chamada de « Águas de Òsàlá »? Abaixo, transcrevemos a história que justifica esse ritual que é realizado no Terreiro de Òsùmàrè.
« Òsálúfon, rei de Ifon, decidira visitar Sàngó, o rei de Òyó, seu amigo. Antes de partir, Òsálúfon consultou um Babaláwo para saber se sua viagem se realizaria em boas condições. O babaláwo respondeu que ele seria vítima de um desastre, não devendo, portanto, realizar a viagem. Òsálúfon, porém, tinha um caráter obstinado e persistiu em seu projeto, perguntando que sacrifícios poderia fazer para melhorar a sua sorte. O babaláwo lhe confirmou que a viagem seria muito penosa, que teria de sofrer numerosos reveses e que, se não quisesse perder a vida, não deveria jamais recusar os serviços que, por acaso, lhe fossem pedidos, nem reclamar das conseqüências que disso resultassem. Deveria, também, levar três roupas brancas para trocar e « Ose dudu » (Sabão da Costa). Òsálúfon se pôs a caminho e, como fosse velho, ia lentamente, apoiado em seu cajado de estanho. Encontrou, logo depois, Èsù Elèpo Pupa (Èsù dono do Azeite de Dendê), sentado à beira da estrada com um barril de azeite de dendê ao seu lado. Após uma troca de saudações, Èsù pediu a Òsálúfon que o ajudasse a colocar o barril sobre a sua cabeça. Òsálúfon concordou e Èsù aproveitou para, durante a operação, derramar, maliciosamente, o conteúdo do barril sobre Òsálúfon, pondo-se a zombar dele. Este não reclamou, seguindo as recomendações do babaláwo; lavou-se no rio próximo, pôs uma roupa nova e deixou a velha como oferenda. Continuou a andar com esforço, e foi vítima, ainda por duas vezes, de tristes aventuras semelhante a primeira, no entanto, com Èsù-Eléèdu (Èsù dono do Carvão) e Èsù Aláàdì (Èsù dono do àdì « óleo da amêndoa do dendezeiro). Òsálúfon, sem perder a paciência, lavou-se e trocou de roupa após cada um das experiências. Chegou, finalmente, à fronteira do reino de Òyó e lá encontrou um cavalo que havia fugido, pertencente a Sàngó. No momento em que Òsálúfon quis amansar o animal, dando-lhe espigas de milho, com a intenção de levá-lo ao seu dono, os servidores de Sàngó, que estavam à procura do animal, chegaram correndo. Pensando que o homem idoso fosse um ladrão, caíram sobre ele com golpes de cacete e jogaram-no na prisão. Sete anos de infelicidade se abateram sobre o reino de Sàngó. A seca comprometia a colheita, as epidemias acabavam com os rebanhos, as mulheres ficavam estéreis. Sàngó, tendo consultado um babaláwo, soube que toda essa desgraça provinha da injusta prisão de um velho homem. Depois de seguidas buscas e muitas perguntas, o prisioneiro foi levado à sua presença e ele reconheceu seu amigo, Òsálúfon. Desesperado pelo que havia acontecido, Sàngó pediu-lhe perdão e deu ordem aos seus súditos para que fossem, todos vestidos de branco e guardando silêncio em sinal de respeito, buscar água três vezes seguidas a fim de lavar Òsálúfon. Em seguida, este voltou a Ifon, passando por Èjìgbó para visitar seu filho Osògiyán, que, feliz por rever seu pai, organizou grandes festas com distribuição de comidas a todos os assistentes.
Assim sendo, pelo dia de hoje, pedimos ao nosso Pai Òsàlá que cubra todos com o seu Alá, trazendo paz, harmonia e felicidade!!!
Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoando todos!!!